domingo, 28 de agosto de 2011

Planejamento permite construir com qualidade e bom preço


Com tudo na ponta do lápis, é possível projetar empreendimentos mais condizentes com a realidade do consumidor, além de diminuir desperdícios e, consequentemente, despesas com a obra

Júnia Leticia - Estado de Minas
Publicação: 28/08/2011 10:38 Atualização: 28/08/2011 11:01
Projetos detalhados possibilitam a otimização dos espaços e reduzem a ocorrência de erros nos trabalhos  (Eduardo Almeida/RA Studio)
Projetos detalhados possibilitam a otimização dos espaços e reduzem a ocorrência de erros nos trabalhos

Conciliar estética e economia na construção de um empreendimento é um objetivo que deve ser buscado desde o início de qualquer edificação. Para isso, é essencial desenvolver um projeto arquitetônico bem elaborado. O resultado pode ser conferido na ponta do lápis, com redução de custos. Além disso, o planejamento permite projetar empreendimentos mais condizentes com a realidade de seu público-alvo, otimizar espaços internos e de convivência, minimizar erros e desperdícios e possibilitar maior viabilidade técnica para a realização da obra.

Para entender em que consiste o trabalho, o diretor da Torres Miranda Arquitetura, Júlio Tôrres, explica que um projeto arquitetônico é composto de diversas fases. “Cada uma delas tem níveis de informação diversos, que correspondem à fase em que se encontra a obra ou empreendimento ao qual diz respeito.”

Esse trabalho, segundo ele, deve ter a flexibilidade necessária a todos os projetos, já que enquanto é executado,surgem demandas específicas. “As informações do projeto arquitetônico vão sendo fornecidas à medida que são necessárias, gerando demandas de outros projetos, como estrutural, elétrico e hidrossanitário”, diz Júlio.

De posse dessas informações, é possível prever os recursos necessários para cada fase do projeto ou da obra. “Planejar significa organizar o processo de implementação do projeto, analisar todos os dados disponíveis, verificar possíveis problemas e solucionar incongruências. Ainda que ocorram erros, esses serão detectados em fase inicial, gerando custo muito baixo.”

Para a engenheira civil Izabel Souki, é importante que haja uma compatibilidade entre os projetos que envolvem a edificação (Eduardo Almeida/RA Studio)
Para a engenheira civil Izabel Souki, é importante que haja uma compatibilidade entre os projetos que envolvem a edificação


A engenheira civil Izabel Souki ressalta que é importante que as diversas áreas dentro da construção de um ambiente – residencial ou comercial – sejam interpretadas em conjunto, sempre fazendo uma compatibilidade entre os projetos. “Alguns dos projetos que devem ser compatibilizados são arquitetura, estrutural, elétrico, hidráulico, luminotécnico, leiaute de ambiente, ar condicionado e forros”, enumera.

PREVENÇÃO
 Quando esses projetos não são trabalhados simultaneamente, pode ocorrer a interferência de um em outro, impedindo a execução ou influenciando na estética do ambiente. “O grande benefício dessa compatibilização é a redução do tempo de execução e a prevenção de problemas futuros que exigiriam retrabalhos. Esse processo ajuda, sem dúvida, na redução de custo da construção do ambiente”, diz Izabel.

Como a máxima “prevenir é melhor que remediar” não se restringe apenas à área da saúde, Júlio exemplifica como o planejamento pode ser útil: “É muito mais barato reparar durante o estudo, no desenho no computador, que uma parede foi colocada em lugar errado do que ter essa constatação depois de construída”.

Sebastião Lopes, da Arqsol, diz que boa parte da falta de planejamento se deve ao desconhecimento da profissão do arquiteto urbanista (Eduardo Almeida/RA Studio)
Sebastião Lopes, da Arqsol, diz que boa parte da falta de planejamento se deve ao desconhecimento da profissão do arquiteto urbanista


ECONOMIA PODE SAIR CARA


Apesar de parecer óbvio que reparar é mais oneroso que se antecipar com relação a possíveis erros, o diretor da Torres Miranda Arquitetura, Júlio Tôrres, alerta que nem todos os empreendimentos contam com o planejamento arquitetônico. Isso porque, muitas vezes, partem da ideia de que o projeto que leva em consideração esses aspectos vai gerar custos adicionais.

O raciocínio errado leva construtoras e incorporadoras a partirem do pressuposto de que terão aumento nas despesas em momentos-chave das etapas que envolvem o projeto. A justificativa encontrada pela engenheira civil Izabel Souki para a falta de planejamento é de que logo no início de um empreendimento é necessário contar com a verba destinada a esse trabalho. “Embora o custo seja pequeno quando comparado ao valor total de obra, muitos empreendedores deixam de pagá-lo para fazer uma economia inicial”, observa.

Entretanto, a realidade é outra. “O que geralmente ocorre é que os custos indiretos ocasionados por problemas que surgem em obras, que poderiam ser evitados com previsões em projetos, não são calculados”, analisa a engenheira. Caso fossem, ela diz que ficaria comprovado para o consumidor que eles acabam sendo superiores aos de um planejamento arquitetônico.

Já o arquiteto da Arqsol Arquitetura e Tecnologia, Sebastião Lopes, acredita que boa parte da falta de planejamento se deve ao desconhecimento da profissão do arquiteto urbanista e do valor arquitetônico das obras. “Muito empreendedor só pensa no valor imobiliário, em prejuízo a outros valores, como o legal, o arquitetônico, o técnico e o econômico”, pondera.

Como consequência, Izabel lembra que o barato pode sair caro para as construtoras que optarem por não contratar um projeto arquitetônico no início da obra. “Essa fase custa de 2% a 5% do valor total da obra e é determinante para a execução de um bom projeto. Além de apresentar um melhor custo/benefício em curto prazo, evita e prevê problemas na infraestrutura.”

ETAPAS 
E isso vale para todas as fases do projeto. O fato de etapas serem eliminadas acarreta, geralmente, falta de conclusão das soluções necessárias para o perfeito andamento do projeto, o que pode ser percebido com o passar do tempo. “Um exemplo comum é a não inserção de profissional de estrutura no início do processo. Mais tarde, um novo pilar que seja necessário pode inviabilizar diversas vagas na garagem”, afirma Júlio.

 (Eduardo Almeida/RA Studio)


Como consequência, ou haverá a necessidade de aprovação de um projeto com a nova estrutura ou será preciso fazer outra, geralmente menos econômica, para não impactar na solução aprovada, como aponta Júlio. “A correria, normalmente, gera menor análise crítica da situação. São adotadas soluções imediatistas, deixando-se de avaliar outras opções que poderiam ser melhores e até mais econômicas.”

ESPAÇOS BEM APROVEITADOS


Um bom planejamento arquitetônico pode resultar, ainda, no aproveitamento integral dos espaços, com opções estilosas e práticas, de acordo com a Izabel Souki. “Algumas dicas são, por exemplo, utilizar espaços de vãos em áreas debaixo de escadas para construção de adegas. Varandas também podem ser integradas ao ambiente interno e ampliar salas de estar ou jantar”, sugere.

Por sua vez, Sebastião Lopes destaca que quando o profissional elabora um planejamento arquitetônico, possibilita a idealização de uma obra condizente com os custos acordados com a limitação econômico-financeira de cada cliente. “Esse planejamento evitará desperdícios na obra, o que é usual quando não há planejamento”, avalia.

E isso vale para todos os públicos-alvos, dos mais diversos tipos de construção, segundo o arquiteto. “O que mais onera uma obra é a má administração. Até uma casa de pau a pique mal administrada fica com custos elevados”, reitera Sebastião.

Mas não basta efetuar todas as fases, aleatoriamente, para conseguir resultados financeiramente favoráveis aos empreendimentos. Elas têm de seguir uma ordem para que não ocorram perdas. Se logo no início do projeto optar-se por detalhar um banheiro, por exemplo, serão gerados custos que, provavelmente, terão de ser revistos, pois podem aparecer interferências de outros projetos no ambiente. “Um novo pilar pode inviabilizar a colocação de um chuveiro no local pretendido. Aí, perde-se o que foi feito (tempo e dinheiro)”, cita Júlio.

O arquiteto Júlio Torres lembra que os projetos têm que seguir uma ordem para que não ocorram perdas (Eduardo Almeida/RA Studio)
O arquiteto Júlio Torres lembra que os projetos têm que seguir uma ordem para que não ocorram perdas


O saldo de todo esse trabalho é a geração de valor agregado ao imóvel, uma vez que permite medir objetivamente o desempenho e a evolução do projeto, confrontando o custo real e o planejado. “Recebemos, recentemente, uma solicitação de intervenção em um projeto em sua fase de finalização. Constatamos que poderia ter ocorrido uma economia de R$ 1 milhão no custo final da obra caso houvesse uma pequena alteração no projeto de circulação vertical”, conta Júlio.

IMAGEM 
Sebastião Lopes também observa o lado estético e a imagem que uma edificação quer passar, que, no fim das contas, contribui de maneira significativa para a composição da paisagem de uma cidade. “A arquitetura é que define a imagem das instituições humanas, seja uma igreja, uma escola, um hospital, uma residência ou outra edificação”, aponta o arquiteto.

O profissional considera que atualmente o conceito de uma boa imagem é tão importante quanto a qualidade de qualquer produto criado pelo ser humano. “Desse modo, o grande benefício de um bom planejamento arquitetônico é a criação de imagens que se transformam em verdadeiros ícones para a sociedade. Veja, por exemplo, os projetos de Niemeyer, o projeto do Banco Central do arquiteto Hélio Ferreira Pinto”, cita.